Para desespero dos pais, que vão tentando tudo... Será do leite? Começam um suplemento e depois mudam de fórmula para uma hipoalergénea ou para uma anti-cólicas, alguns acabam no soja. Será refluxo? Toca a elevar a cabeceira, muda novamente a fórmula. Serão gases? Troca o biberão, junta uns pró-bióticos para ajudar a digestão, estimulação rectal para ver se saem uns 'punzinhos'. E andam nisto até aos 4 meses, altura em que a maioria das cólicas passam... espontaneamente.
Ultimamente, têm surgido alguns estudos que apontam para as cólicas do lactente como um sinal precoce de enxaqueca. O Medscape tem uma reportagem interessante sobre isto, a propósito de uma conferência da Dra. Amy Gelfand, uma neuropediatra que se tem dedicado a este tema. Um estudo seu de 2012, baseia-se em 154 entrevistas para conlcuir que Mães com história de enxaquecas têm 2,6 maior risco de gerar um bebé que sofresse de cólicas. Sabido que a enxaqueca tem uma forte penetração familiar, a autora achou que esta cólica não seria mais do que uma forma de enxaqueca manifestada pelo choro do bebé. Por isso, fez uma meta-análise (basicamente, pegar em vários estudos sobre o mesmo tema e trabalhar com números maiores) e concluiu que crianças e adolescentes com enxaqueca teriam entre 3,6 e 6,5 vezes maior risco de terem sido bebés com cólicas. Isto aponta novos caminhos na compreensão da causa (e eventual tratamento) para as cólicas do lactente.
[fonte: thewellnessdirectory.co.nz]
À falta de melhor conhecimento científico, o tratamento das cólicas do lactente manter-se-á um tratamento muito personalizado, avaliado caso a caso pelo médico ou pediatra assistente. Pode realmente ser necessário mudar o horário da amamentação, ou trocar de leite, ou juntar algum próbiótico, ou acrescentar algum truque que o médico do seu filho tenha na manga (podem ler aqui alguns desses truques). Não procure na Internet uma solução milagrosa (muito menos neste blogue). De qualquer forma aliviar a dor está ao alcance de qualquer um:
- massagens na barriga são uma forma fácil e instintiva de dar conforto bebé,
- paracetamol é um analgésico perfeitamente seguro nesta idade,
- Aero-OM. As chamadas 'gotinhas cor-de-rosa' contêm simeticone (o mesmo princípio activo do Infacalm e Infacol). Segundo a empresa as 'gotinhas' são «anti-espumantes» (talvez anti-gaseificante fosse demasiado visual,) mas estou convencido que é o facto de serem extremamente doces que faz com que os circuitos da dor sejam inibidos,
- colo e passeio, pois o sentir os pais e trepidar do carrinho ajudam tranquilizar a criança.Pode haver o tal perigo da habituação, mas às vezes é um preço que teremos que pagar. Já acreditei mais nesta coisa do 'não habituar ao colo', porque as crianças estão em constante mudança e adaptação a novas situações.
- muitas crianças tranquilizam com barulhos graves e ritmados. Pode ser o cochicho dos pais, mas sei de casos tão bizarros como o secador, a máquina de lavar e até o aspirador. Não tenho explicação científica para isto...
[fonte: www.sciencenews.org]
Acabo este texto com dois conselhos para os pais de um bebé com cólicas. 1. Mantenham sempre presente que é uma situação que vai passar por ela. Por mais desesperante que seja, o choro vai passar. Não acabaram de gerar um ser possuído por um qualquer demónio (embora para já pareça). As cólicas vão passar pode ser aos 2-3-4-5 meses. Mas vão passar!
2. Revezem-se. Quantas vezes na urgência me apareceram dois pais com olheiras 'até ao chão' desesperados com o choro do petiz. Choro esse que na maior parte das vezes tinha passado, embalados com a viagem de carro. O sono em excesso leva-nos a discussões, a berros e, sobretudo, a más decisões. Não adianta estarem dois a tentar consolar uma criança aos berros. O melhor é um ficar com o bebé (eventualmente até sair de casa com ele), enquanto o outro descansa. Assim, quando um estiver exausto, trocam posições. Haverá sempre alguém com lucidez suficiente para gerir a crise.
Nós tivemos cólicas durante um mês, que passaram dois dias depois de alterarmos o leite adaptado (quando o bebé começou a regurgitar "iogurte" e a pediatra teve de aceitar que era preciso mudar a fórmula). Mas filhos de amigas minhas que foram apenas amamentados a leite materno também tiveram cólicas. Eu tenho enxaquecas mas nunca tive cólicas. Nem eu nem os meus irmãos. A minha mão não tem enxaquecas. Isto baterá certo com o estudo de que falas. De qualquer modo, a minha intuição em relação a este assunto é que "cólicas" é um nome que serve para muitos sintomas. Seria excelente que se fizesse estudos mais detalhados e que se levasse mais em conta a experiências dos pais, que conhecem os bebés e poderão dar informação diferenciada sobre o assunto. Quando procurava os pediatras para falar sobre o assunto, sentia que me "despachavam" com as "cólicas", dizendo-me sempre que não havia nada a fazer, a não ser acalmar o bebé (o que eu já fazia, claro) e esperar. Ao fazer isso, os médicos não ouvem com atenção o que os pais descrevem e perdem um pouco a confiança dos pais, perdendo assim também a oportunidade de compreender melhor o fenómeno e encontrar possíveis diferenças entre casos.
ResponderEliminarBem apontado, Manela! Rotular à partida um desconforto abdominal como cólicas podemos não estar a valorizar uma dor abdominal por hérnia inguinal, apendicite aguda, vólvulo intestinal e tantas outras doenças cirúrgicas, ou coisas mais corriqueiras como o cansaço, o stress, etc.
Eliminarnão sei se haverá estudos científicos sobre o assunto mas os ruidos graves e ritmados não me parecem ser desconhecidos de um bebé a crescer durante nove meses dentro do corpo da mãe que não é de todo silencioso. tem ruídos ritmados (a digestão não é silenciosa nem o fluxo sanguíneo e por ai fora....) e embalos constantes ( enquanto a mãe se desloca, se baixa, se levanta, o bebé embala). o bebé também cresce num ambiente "apertadinho" por isso parece-me muito natural que possa acalmar quando o enrolamos numa manta, o metemos num sling, ou claro o " apertamos" no colo. parece-me tão óbvio que prolongar ambientes familiares possa acalmar um bebé que arriscaria que a ciencia nem precisa de comprovar a ordem natural das coisas. posso acrecentar e contribuir para qualquer uma estatística que o meu primeiro bebé acalmava com o secador ligado e esse "ruido" não deve andar muito longe de alguns "ruidos" no interior do corpo humano....
ResponderEliminarÉ uma das explicações que tenho ouvido e tem toda a lógica :) Mas um aspirador??? Era das coisas que mais me tirava do sério quando tentava dormir até mais tarde em casa dos meus pais :D
Eliminaro que nos deixa confortável e os ruidos que apreciamos menos ou mais vão concerteza mudando com o crescimento claro acredito que nessa altura também já não fosse agradável adormecer ao colo e " apertadinho" :)
ResponderEliminarAmamentei o meu primeiro filho até aos 18M e em exclusivo até aos 4,5M. Nos primeiros tempos estou certa que as cólicas agravavam com o leite de vaca e a comida condimentada ingeridos por mim. Fiz estas restrições e a mudança foi incrível. Aliás, quando me esquecia e comia gelado de leite ou sandes com queijo, lá vinha um dia pior. Associei à proteína do leite de vaca porque lactose devo eu também ter. Não encontrei textos científicos nem outros profissionais de saúde a apoiar esta minha teoria. Mas recentemente comentei com uma colega de infecciologia que não só concordou como me disse que apesar de recomendarem manter a amamentação às mães africanas com HIV, recomendam que elas deixem de consumir leite de vaca para evitar lesões no intestino dos bebés que assim poderiam facilitar o contágio. Ok, não sou a única a pensar isto!, foi o que eu pensei. Agora tenho uma segunda filha com 20 dias e desde que ela nasceu que evito esses alimentos. É um facto que ela tem poucas cólicas, mas não sei se é por isso, claro (até porque ainda é cedo). Se bem que me facilitei e comi umas comidas mais temperadas inclusivé com caldos de galinha artificiais e, coincidência ou não, tive a única noite má com cólicas (daquelas que se percebe bem que são).
ResponderEliminarOutro assunto é a distinção da dor. No primeiro filho sentia que não percebia nada. Nesta, depois de ler umas coisas e sobretudo pela experiência e maior calma, acho que se distinguem os choros por fome, dor abdominal, irritação... não digo sempre, mas muitas vezes. Sobretudo pelos sinais associados... se procura mama, se está na hora de mamar, se contrai as pernas e a barriga fica tensa, se a seguir faz cocó e fica aliviado, se está cansado porque teve muita agitação... Vamos lá ver se estas teorias se mantêm à medida que ela cresce ;)
Parabéns pelo seu blogue! Gosto muito!
http://tenhoumrapaz.blogspot.pt/
Está tudo explicado, então! Eu fui um daqueles bebés que berrava, berrava, berrava.... E tenho enxaquecas!
ResponderEliminarAs minhas três crianças foram bebés sem cólicas. Nunca comprei aero-om. Mamaram em exclusivo até aos seis meses mas nunca deixei de comer coisa alguma, excepto álcool. Sempre dormiram toda a noite, nunca dei de mamar de duas em duas horas nem de noite, nem de dia.
Mas choravam, claro. Os bebes têm que chorar, e que ser consolados. Tenho amigos que são pais de bebes e que não os conseguem ouvir chorar, e depois toda a família entra em Stress...
A minha filha mais nova durante meses chorava todos os dias uma hora ao fim do dia. Chorava, pegava-lhe, embalava-a, cantava, enfim, mas nunca desesperava, porque sabia que era só uma hora e depois passava.