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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

6 pecados dos pais em relação aos desporto

Dada a paixão louca do meu mais velho pela pratica desportiva, tenho andado atento a um novo tema: a educação para o desporto e, dentro deste, à psicologia do desporto: lidar com a frustração (mas também com o sucesso), manter o entusiasmo, incentivar o espírito de equipa, etc. O JM gosta mesmo muito de desportos. Tem futebol na escola, vai uma vez por semana à natação e ainda pratica hóquei em patins ao fim-de-semana. Sempre que tem hipótese salta para a bicicleta, desce rampas de skate e pede férias 'no surf'. Como pais, sentimos que devemos deixá-lo experimentar os desportos todos a seu belo prazer, mas (1) não queremos que ande sempre a saltar de moda para moda, (2) sentimos que a natação é 'obriigatória' para quem vive junto ao mar e (3) queremos que o desporto seja uma actividade construtiva/positiva do seu dia-a-dia, que lhe traga benefícios físicos e de carácter.

No Yahoo Parenting, encontrei um texto que serve bem para início de conversa. O texto foi escrito por dois irmãos, Lisa e Patrick Cohn, que mantêm um blogue chamado Youth sports psychology e são basicamente os 6 erros (eles chamam-lhes pecados) praticados pelos pais de jovens desportistas. Passo a uma tradução livre e resumida dos mesmos.

[fonte: multiplemayhemmamma.com]

1. Os pais acham que os filhos preferem vencer acima de tudo. É mentira. Entre perder e jogar o tempo todo ou vencerem mas jogarem pouco tempo, as crianças preferem o que dure mais tempo, o que envolva mais amigos e mais diversão. Como muitas vezes dizemos (e parece que deixámos de acreditar): «ganhar ou perder, o que interessa é participar».

2. Os pais acham que equipas mais exigentes (mesmo que pela distância, pelo custo monetário ou pelo tempo despendido) são as que garantem mais sucesso às crianças. É mentira, as equipas mais exigentes com as crianças não preparam os melhores atletas, porque a taxa de desistência por cansaço é maior. As viagens podem ser extenuantes. A obsessão com 'a melhor equipa' pode amedrontar ou até desmotivar a criança que só se quer divertir.

3. Os pais tendem a alimentar as superstições. É errado. Alimentar crenças como 'só ganho se tiver vestida aquelas meias verdes ' transfere a responsabilidade do sucesso (ou insucesso) para algo exterior às capacidades da criança. Os pais devem focar e criar confiança nas capacidades que a sua criança tem, independente da cor das meias.

4. Os pais tendem a lembrar as crianças dos erros que cometeram. Embora a intenção possa ser nobre, não se deve insistir no que correu mal no jogo anterior. Antes, deve-se insistir no que correu bem. A criança tem já por si dificuldade em ultrapassar os seus erros e as suas frustrações. Lembrá-los disso faz com que bloqueiem, preocupados em evitar o próximo erro, em vez de progredir com espontaneidade nos passos em que são certeiros.

5. Os pais não confrontam os treinadores que gritam e humilham. Não devemos tolerar isto. O feedback negativo do treinador mina a auto-confiança das crianças e a consequência é muitas vezes a desistência. Há pais que têm receio de represálias sobre as crianças e se retraem de chamar os treinadores à razão. As crianças não são adultos pequenos.

6. Os pais focam-se demasiado em objectivos como bolsas e vitórias. Mas isto é colocar a pressão nas crianças pela razão errada. As crianças devem ser incentivadas a praticar desporto pelo prazer do momento. Isto significa concentrarem-se na próxima jogada, arriscarem, sentirem-se felizes e confiantes, get in the zone.

Estes seis pontos foram escritos face à realidade americana, mas penso que facilmente se transpõem na nossa realidade. Se em Portugal pecamos, é por excesso. Um dia caí no erro de assistir um treino de futebol dos escalões mais novos Boavista. Foi numa das primeiras visitas que fiz com o JM ao estádio do Bessa. O que vi não foi um treinador a gritar e a humilhar as crianças. Foram pais a berrarem para dentro do campo, furiosos com os filhos e com os colegas dos filhos, a insultarem o treinador e outros pais que assistiam ao treino, várias ameaças de pancada. Virei costas. Não ficámos para ver.

Como é uma área que ando a explorar recentemente, gostava mesmo de saber o que acham destes 'pecados' e que dicas dariam sobre o tema.

7 comentários:

  1. O meu filho de 4 anos desde os 6 meses que anda na natação...Este é o primeiro ano 2015/2016 que ele está a treinar sem a minha presença, (estou na piscina ao lado com o irmão mas sempre atenta)...Ele adora a piscina mas admito que no fim de cada treino lhe chamo atenção do que fez bem e mal...se ele não souber o que fez mal não consegue evoluir. Por exemplo, quando ele nadava contra os colegas dele, tinha muito o vicio de olhar para trás para ver a distância e com esse gesto perdia muito tempo.Chamei-lhe atenção para nadar sempre sem olhar para trás e concentrar-se somente no exercício dele...Na aula a seguir veiu todo orgulhoso que tinha olhado somente 1 vez para trás e dei-lhe os parabéns pois viu que o resultado foi muito melhor...Na aula não digo nada pois essa função é do professor mas em casa sem pressões dou-lhe uns toques. Não quero que o meu filho seja campeão mas quero que seja aplicado naquilo que faz e aprenda bem as técnicas da natação e que se divirta porque no dia que deixar de se divertir acabou a piscina. No ano passado quis que ele praticasse hóquei patins. Experimentamos 6 meses e acabamos por desistir, ele não se entusiasmava e os professores também não o motivavam. Para mim é essencial que gostem do que estão a fazer, que se insista na prática e que o objetivo seja aprender a jogar e não a ganhar. Eu não gosto do futebol precisamente pelo que diz, os pais devem achar que os filhos vão todos para jogadores de futebol...e profissionais no desporto levam uma infância e adolescência de treinos pesados é só olhar para os grandes tenistas, o Nadal por exemplo começou aos 3 anos.

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  2. Quanto mais avanço nesta coisa da parentalidade mais aprendo que estou sempre a aprender. Esta introdução serve apenas para mostrar que não me sinto em posição de dizer que sei alguma coisa, até porque cometo, pelo menos, o pecado de salientar ao meu filho o que fez mal, com intenção de o ajudar a melhorar na próxima vez, mas... Bem, o que eu queria com o meu comentário era partilhar o que o meu filho me respondeu aqui há dias quando, sem grandes cuidados, lhe perguntei como tinha corrido a aula de natação. A resposta foi: "não tenho jeito nenhum para aquilo [note-se que só começou agora com treinos "formais"] mas correu bem!". Foi a primeira vez que me deu uma resposta tão consciente do seu corpo e das suas capacidades. Fiquei a pensar.

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    1. Essa resposta tem muito que se lhe diga. Não tem jeito mas correu bem. É porque gostou. O facto de não ter jeito é acessório. Parece-me.

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    2. Sim. Também interpreto assim. Parece-me uma resposta positiva. Até porque o disse com um ar sorridente e bem-disposto. Faz-me pensar é que, na próxima vez, começo por perguntar se gostou da aula e, quando receber outra resposta assim, digo que o jeito acaba sempre por vir quando se gosta. O que é mesmo verdade :-)

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  3. Este tema tem muito que se lhe diga... tenho 2 filhos que praticam futsal, um com 6 que ainda joga sob o lema "ganhar ou perder não interessa, o que importa é participar" e quando ganham é uma festa e quando perdem é uma festa também... o outro tem 11 anos e joga em outro clube onde os resultados são o mais importante... foi para lá por escolha dele, e é por escolha dele que lá continua, mas nem sempre é fácil, a pressão é grande e o trabalho dos pais é muito importante para que eles não deixem que momentos menos bons lhes tragam fazes de frustração e desmotivação. Nem sempre os treinadores sabem motivar miúdos nestas idades, que como disse, não são pequenos adultos, alguns tratam todos por igual ignorando as características de cada um, por vezes para motivarem 2 ou 3, desmotivam os outros todos... felizmente não são todos assim, mas deviam todos ter formação nesta área comportamental. A questão dos pais é outro problema, por vezes consegue-se contornar não os deixando assistir aos treinos, no entanto nos jogos eles lá estão... é preciso formar os pais também.
    Não temos regras definidas cá em casa, mas por norma tentamos não interferir muito, estamos sempre presentes nos treinos e jogos, damos as nossas opiniões calmamente e estamos sempre muito atentos a mudanças de comportamento que possam derivar de alguma frustração que ande para ali a moer.
    Tudo tem corrido bem, principalmente a relação com a escola, e na organização, que tem de ser muita, para este tipo de atletas a partir dos 10 anos.

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  4. Entretanto, e devido a uma situação de racismo que aconteceu na época passada num jogo de benjamins (atletas de 9/10 anos), foi criada uma comunidade que tem como objetivo chamar a atenção dos pais para comportamentos impróprios e criar um ambiente mais saudável por esses pavilhões fora. Aqui fica o link: https://www.facebook.com/somostodosfutsal/

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  5. Tenho duas filhas com 8 e 11 anos, que praticam equitação desde que se lembram (o pai é professor). É um desporto que só tem vantagens. Trabalham a parte física, e sem dúvida a emocional, que sai sempre fortalecida pela ligação que criaram com as éguas delas.
    Tem que o levar a experimentar um dia!
    P.S. o seu filho já tirou fotografias para um catálogo com o ponei delas :)

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