A nossa tradição muito familiar de Halloween

Não gosto do Halloween. É a minha costela conservadora. A mesma que é responsável pelo meu desprezo pelo Pai Natal. Quer num caso quer noutro, aborrece-me a substituição de verdadeiras tradições portuguesas (cristãs) por outras modernas, pagãs e com um forte cariz comercial. Neste aspecto, o Halloween é especialmente deplorável, porque a forma como se vende a 'festa' às crianças é: mascarem-se de criaturas horrendas e vão bater à porta dos vizinhos pedir guloseimas. Se eles não derem, toca a retaliar com farinha nos tapetes, papel higiénico nos puxadores, entre outras patifarias. Não bastasse o conceito alimentar completamente errado, ainda ensinamos os pequenos a portarem-se como mini-arrumadores-de-carros. Dás-me a moedinha ou risco-te a viatura.

Não gosto do Halloween. Por isso, todos anos em noite de todos os santos, coloco um bilhetinho na porta a pedir 'Bebé a dormir. Não tocar à porta sff'. Mas este ano foi diferente. O JM (4 anos) foi alimentando alguma expectativa à volta da festividade. Convenceu a Avó a comprar-lhe uma t-shirt e guloseimas para o seu Halloween, como que a adivinhar que seria convidado pelos vizinhos mais velhos para participar nas rusgas.

Não gosto do Halloween mas sou pai. Seria incapaz de privar um filho de uma diversão que se está a tornar moda na sua geração e, pensando bem, não é tão maléfica assim. Então a Mãe improvisou uma máscara de morto-vivo (ou lá o que era aquilo), vestiu a t-shirt que encomendara à Avó e seguiu o rapaz no meio de bruxinhas e mostrengos no que veio a ser o seu primeiro Halloween.

[Neste momento são 21h30 e parte do meu aspecto zombie deve-se à privação de sono]

Nós (eu e a Mãe), amadores nestas andanças, aguardávamos com ansiedade a chegada da trupe. Quando do lado de lá da porta, começámos a ouvir os gritinhos excitados da companhia e, entre eles, a vozinha do JM a dizer «esta é a minha caja», não esperámos pelo toque da campainha. Abrimos a porta e começamos a distribuição das guloseimas. Fechámos a porta e preparávamos para descansar. O MM já dormia no nosso quarto (longe da confusão). Eis que se ouve ao fundo mais uma trupe de monstrinhos a tocar na porta dos vizinhos de cima.

Nós (eu e a Mãe), amadores nestas andanças, tínhamos esvaziado o saco dos caramelos à primeira rusga. Não nos lembrámos que mais grupos organizados de monstrinhos poderiam bater-nos à porta durante o resto da noite. Eis que voltámos à nossa tradição muito familiar. 'Bebé a dormir. Não tocar à porta sff'.

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