Este não é propriamente um blogue de viagens e, na verdade, não tive muito tempo para conhecer Pequim. Ainda assim, gostava de deixar algumas impressões da viagem. Pequim não é uma cidade cheia de bicicletas e pessoas de olhos em bico vestidas de túnicas lisas e monocromáticas. Os olhos em bico prevalecem, mas as roupas e muitos dos hábitos diários são completamente ocidentalizados. A maior parte das vezes, passear em Pequim não é diferente de andar por aqueles centros comerciais cheios de lojas dos chineses. Há algumas zonas de comércio mais chique com todas as marcas europeias e americanas de renome, mas claramente não são para o chinês comum. Elas são muito caras e o poder de compra da população é muito baixo. Pareceu-me que as únicas pessoas que compravam nessas lojas eram asiáticos estrangeiros.
O meu objectivo era estar no congresso do IPEG. Apresentámos alguns dos trabalhos que temos a desenvolvido na Universidade do Minho e trouxemos de lá algumas novidades. O hotel onde decorria o congresso ficava numa zona de negócios, onde havia um dos tais centros comerciais de marcas caras. Já o hotel onde fiquei alojado distava 2 quarteirões para norte e o contraste era surpreendente. De um quarteirão para o outro, as ruas limpas com passeios asseados, ares de europeu, eram substituídas por ruas muito sujas, algumas sem passeios, casas com aspecto muito pobre e um odor de mistura de fritos e lixo. Na verdade, gostei de ver esta cidade real, que se esconde atrás dos circuitos turísticos e dos arranha-céus imponentes que Pequim foi construindo durante estes novos anos de modernidade. As ruas de Pequim que ficam fora deste circuito têm menos glamour, mas transbordam uma animação muito própria, com gente na rua, esplanadas improvisadas, famílias a fugir do calor que faz dentro das casas. Também foi uma forma de experimentar alguma comida chinesa realmente original, apesar da dificuldade na comunicação, porque ninguém fala inglês. Só apontando para o que a mesa ao lado comia, conseguia fazer os pedidos. E para pagar, escreviam-me num papel o valor.
Mas a minha maior surpresa não foram as ruas mais sujas ou o aspecto ocidentalizado das pessoas. Na verdade, algumas reportagens dos Jogos Olímpicos de 2008 mostravam já estes dois aspectos da vida em Pequim. O que mais me surpreendeu (e negativamente) foi a falta de liberdade. Foi um choque para mim aceder à Internet e ver websites como facebook, twitter, foursquare e blogger interditos. Mesmo a Google tem limitações. Por exemplo, quem fizer a pesquisa de praça de Tiananmen fica temporariamente sem acesso ao Google. Eu fiz essa experiência. É um bocado assustador, para quem sempre viveu em liberdade. Ver-me assim no meio de um regime totalitário de um só partido, onde a população não pode escrever o que quer, não pode ler o que quer, foi incómodo. Não me interesso pela actualidade política da China e estive lá muito pouco tempo para ter uma opinião segura, mas, para modelo de socialismo, pareceu-me que havia uma disparidade muito grande entre ricos e pobres. Mais, todos os jardins por onde andei eram pagos. As visitas aos edifícios também. Os transportes 'do Povo' eram também pagos. Disseram-me colegas chineses, que a saúde seria também maioritariamente paga (excepção feita a cuidados básicos). Quando leio por aí, odes ao desenvolvimento económico da China, penso para mim: a que preço?
Por mero acaso, vi que o instagram não estava bloqueado e melhor: conseguia através dele actualizar o meu facebook e o meu twitter. Foi através dele que fui fazendo uma foto-reportagem da minha visita. Daí, não me querendo repetir, enumero o que consegui visitar. Cheguei a Pequim (via Frankfurt) às 8h30 de Quarta-feira. Entre passar o controlo alfandegário, pegar nas malas, apanhar o comboio para o centro da cidade, entrar no metro e mudar de carruagem duas vezes, só cheguei ao hotel às 12h00. Alojei-me e saltei para a rua. A melhor forma de combater o jet lag é cumprir os horários locais desde o primeiro dia. Fui directamente ao Templo do Céu. Subi até à praça de Tienanmen. De lá, fui para a Cidade Proibida. Foram muitos quilómetros a andar, debaixo de um sol intenso, o que motivou o tal descolamento solar (de sola) que a Mãe fez questão de partilhar aqui no blogue.
Quinta-feira e Sexta-feira foram dias de trabalho. O congresso começava cedo às 7h e só acabava pelas 18h. Ainda assim, na Sexta-feira, consegui dar um salto ao mercado nocturno de Wangfujing. É uma rua comercial como tantas outras em Pequim. Mais uma vez alternam lojas de boas marcas ocidentais com lojas dos chineses muito parecidas com as que há cá. A diferença (e principal atracção) é a enorme quantidade de bancas de rua a venderem comida tradicional chinesa. Foi aí que provei as espetadas de centopeias e de aranhas. E que se quebre mito: comer centopeias ou aranhas não é nada de especial. Não têm grande sabor e a textura é de uma coisa estaladiça (tipo batata frita). Não é nojento, mas também não é um petisco. Boas mesmo eram as espetadas de lulas e os noodles feitos ali à nossa frente.
Sábado, o congresso acabou à hora de almoço, pelo que aproveitei a tarde para visitar o palácio de Verão. Era o local onde os imperadores se refugiavam do calor da cidade proibida. Actualmente, são hectares e hectares de jardins lindíssimos e um lago enorme, onde se podem dar longos passeios de barco. Foi uma tarde muito divertida que fechámos com um pato à Pequim, no restaurante Da Dong que, a avaliar pela fila de chineses à porta, era mesmo 'o' sítio para comer pato em Pequim.
O voo de regresso foi às 6h30 do dia seguinte, pelo que às 4h00 de Domigo estava a entrar no taxi rumo ao aeroporto. Foram 23 horas até aterrar novamente no Porto (via Zurique). Cheguei a tempo do São João. A Mãe esperava-me com os dois rapazes para irmos a uma sardinhada com uns amigos. Não resisti muito, mas não quis ceder ao jet lag. Deitei-me a horas de poder aproveitar o dia de hoje com a família e matar as saudades que eram muitas.
MM, 5 meses, com uma pequena 'maldade' que o pai lhe trouxe.
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