Algumas palavras compreendia, a palavra "mãe", a palavra "coração", a palavra "alegria". Quando, por exemplo, a mão da mãe acariciava levemente a barriga e o tocava através da pele, experimentava uma sensação vibrante e nova que nunca antes, no Céu, quando ainda não era homem, sentira. Então, o seu sangue corria mais depressa e sentia as faces ruborizarem-se-lhe. Estava certo de que "alegria" era isso.
Mas certas palavras eram turvas e difíceis de perceber, como a palavra "morte", que devia ser algo assustador pois Nossa Senhora dizia-a de vez em quando e, sempre que a dizia, estremecia, e ele próprio, dentro dela, estremecia também sem saber porquê. Outra palavra que Nossa Senhora dizia às vezes, baixando a voz como se não quisesse ser ouvida, era a palavra "medo". Que quereriam dizer palavras assim? Porque teriam os homens inventado palavras tão feias.
"O Sorriso" , de O cavalinho de pau do Menino Jesus e outros contos de Natal.